SPFW tem desfile com modelos trans e estilista baiano

Quando ainda morava em Itabuna, nos anos 70, o estilista Ney Galvão abriu com a irmã uma loja chamada El dia que me Quieras com roupas exóticas que logo caíram no gosto dos travestis do Sul da Bahia. Foi desse espaço de transgressão que o mineiro Ronaldo Fraga tirou o nome da coleção que desfilou na tarde desta quarta-feira (26), no São Paulo Fashion Week, maior semana de moda da América Latina.

O cenário escolhido foi o palco do Theatro São Pedro (1917), por onde 30 mulheres trans desfilaram usando uma única peça: o vestido. “Se aqui estamos falando do corpo como prisão do desejo, a roupa funciona como chave e quase todo trans recorda como momento libertador aquele em que usou o primeiro vestido”, afirmou o estilista. Ao final da apresentação, as modelos surgiram usando lingeries inspiradas na década de 40, dançando em pares, até o criador aparecer para os aplausos finais. Emocionado, Ronaldo Fraga chorou muito e contagiou a todos na plateia.

Fotos: Agência Fotosite/divulgação

Com apenas 19 anos, a modelo Valentina Luz chamou a atenção para a importância do tema do desfile. “Muitas trans são envolvidas na moda. Têm esse sonho de desfilar, mas por conta de transfobia, não têm esse privilégio”, conta Valentina, que trabalha como gerente de produção de um outro estilista. Mais experiente na passarela, a modelo e designer Aretha Sadick, 27, fez sua estreia no SPFW. “O mais importante é a representatividade. É servir de inspiração para outras pessoas. Não é só pela gente, mas pelo monte de outras trans que estão pelas ruas”, destacou Sadick, após o desfile que teve 60 flores feitas à mão para os adereços de cabeça e contou com beleza assinada por Marcos Costa.

A arte perturbadora de Gustave Coubert e Louise Bourgeois e poemas de Carlos Drummond de Andrade formaram o caldeirão de referências do baiano Vitorino Campos em sua décima temporada de SPFW. O estilista levou para passarela montada na tenda do evento, no Parque do Ibirapuera, uma série de looks masculinos e femininos com modelagens amplas, transparências de tules e texturas. As peças em algodão, lã e couro vieram nos tons de cinza, rosa, vermelho, amarelo e azul, cores retiradas da obra do impressionista Egon Schiele. Os looks foram arrematados por óculos da Chilli Beans e sandálias Melissa, assinados em parceria com Vitorino.

O quarto dia de SPFWTRANSn42 começou cedo, com o público indo até a fábrica da Iódice ver de perto a coleção de Inverno 2017 da marca, batizada de Índia Punk. Na passarela montada em um dos espaços do lugar, o que se viu foi o tempero do país com perfume transgressor. Roupas com modelagens amplas – bem urbanas –, feitas em veludo, ganharam elementos à Bollywood, como bordados e brilhos. Quem gostou de alguma delas, não vai ter que espera-las nas lojas. O e-commerce da marca venderá parte da coleção de 7 a 30 de novembro, com entrega prevista para janeiro de 2017, dois meses antes da coleção estampar as vitrines.

Outro país asiático serviu de inspiração para a Água de Coco. A marca de moda balneário foi até as Ilhas Maldivas para criar seu resort, recheado de coloridas estampas botânicas e abacaxis (que ainda tem fôlego para mais um verão). O desfile, realizado na loja da Artefacto, na Avenida Brasil, teve famosas como as cantoras Claudia Leitte e Wanessa na plateia.

A marca cearense aproveitou para lançar sua segunda linha homewear. Com curadoria de Renato Thomaz, filho da estilista Liana Thomaz, a Casa Água de Coco tem 400 itens, à venda na loja online Shop2gether. A programação do evento contou ainda com os desfiles das grifes Amir Slama e Osklen. A semana de moda segue até sexta-feira. Nesta quinta (27), desfilam Gloria Coelho, Vix, Just Kids (estreia das amigas Juliana Jabour e Karen Fuke), Samuel Cirnansck, Ratier e Helo Rocha.